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Pesquisa revela que mutação protege contra Alzheimer

Publicado em Saúde há 12 anos, 10 meses, 19 dias

Do Estadão

Pela primeira vez, pesquisadores encontraram uma mutação genética que confere forte proteção contra o Alzheimer. A descoberta, publicada nesta quinta-feira na revista científica Nature, pode orientar futuras pesquisas sobre mecanismos de prevenção e tratamento da doença, até hoje sem cura.


Caracterizado pela perda de memória, da capacidade de realizar tarefas cotidianas e pela degeneração das funções motoras, o Alzheimer se manifesta no cérebro pela presença de placas senis entre os neurônios e pela formação de emaranhados da proteína tau no interior da célula nervosa.


As placas senis são compostas pela proteína beta-amiloide. E foi no gene da proteína precursora de beta-amiloide (APP) que foi encontrada a mutação genética denominada A673T, protetora contra o Alzheimer. O estudo, liderado pelo pesquisador Kari Stefansson, da Faculdade de Medicina da Universidade da Islândia, constatou que, além de apresentar menos risco de ter a doença, os idosos portadores da mutação tiveram desempenho cognitivo superior aos demais.


O estudo também mostra que, em testes feitos em laboratório, a presença da mutação garantiu uma redução de 40% na produção da proteína beta-amiloide. Para chegar a esse resultado, os pesquisadores analisaram o genoma de 1.795 pessoas.


O grupo controle - composto por idosos com mais de 85 anos que não apresentavam declínio cognitivo - teve uma probabilidade 5,29 vezes maior de apresentar essa mutação em comparação aos portadores da doença.


Embora a mutação seja rara - estava presente em 0,62% dos idosos saudáveis e em 0,13% dos pacientes com Alzheimer - o caráter protetor contra a doença foi considerado forte.


Repercussão


Para o neurologista e geneticista David Schlesinger, do Hospital Israelita Albert Einstein, trata-se de um resultado relevante por ser a prova de que a inibição da divisão da proteína APP previne o surgimento do Alzheimer. "Essa é a evidência de que todos os tratamentos em pesquisa que são focados em inibir esse mecanismo têm grande chance de funcionar. É um resultado superinteressante, que também tem outro aspecto: ele valida a prática de sequenciar genomas para encontrar variantes relevantes para doenças comuns."


Para o neurologista Arthur Oscar Schelp, professor da Unesp, a pesquisa traz um avanço importante, porém a perspectiva de um novo tratamento com base nessa descoberta deve ser vista com cautela, já que pode demorar ainda alguns anos até que se concretize. Segundo ele, o principal trunfo do estudo foi conseguir constatar, em experimentos em laboratório, a inibição da formação da proteína APP, que leva à composição das placas senis que provocam a doença.


"Há uma expectativa de que consigam, eventualmente, achar um jeito de curar as pessoas antes mesmo de desenvolverem a doença", diz Schelp. Ele acrescenta que já existem pelo menos oito alterações genéticas identificadas que caracterizam um risco maior para o desenvolvimento do Alzheimer. Mas, enquanto não houver alternativas disponíveis para impedir o surgimento da doença nesses casos, não adianta fazer exames para obter essas informações.

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