O descanso de Domingos
Publicado em Notícias há 11 anos, 11 meses, 15 dias
Príncipe nordestino escancara uma lacuna na música do país com sua subida aos céus
Por Ricardo Anísio
No meu livro mais recente (“Forró de Cabo a Rabo”, Edições Bagaço, Recife) eu coroou Dominguinhos como “o príncipe do forró”. Mas, pensando bem, já que Luiz Gonzaga era e será sempre o Rei do Baião, acho que Dominguinhos pode ser entronado como Rei do Forró, por que não?
Afinal de contas nenhum outro artista pode ser catalogado ao lado de Gonzagão e devidamente aclamado pelo mestre. O que me inquieta na verdade, é o fato de ver os cânones maiores desses nossos sertões pegando carona para o que chamamos de “andar de cima”.
E é mesmo andar de cima. Astros como Dominguinhos não podem ser meramente súditos, príncipes, herdeiros ou coisa parecida. Ele tem sim todo direito de ter um trono somente para si. Depois de Gonzaga ter desencarnado não tem como creditar a uma bela coroa o José Domingos de Morais. Ele é rei sim senhor.
É rei porque não competia com Gonzaga e porque tem talento de sobra. Para mim que atuo na crítica musical da Paraíba desde 1978 nada menos do que Rei deve ser a nomenclatura desse sanfoneiro sem par. Sim, Luiz Gonzaga nunca foi mais músico do que Dominguinhos. Como músico, o Rei Luiz não chegou a superar o súdito.
Claro que no conjunto da obra é insano comparar esses dois mestres que agora fazem levantar poeira dos bailes celestiais. Mas à Dominguinhos cabe um pedestal dos mais representativos na música popular deste Brasil; de Mãe Preta e Pai João.
E agora, José?
O José Domingos (assim mesmo, plural) certamente percorrerá um caminho digno, elevado e indelével. Tanto pela sua obra como pelo seu gigantismo de caridade e coerência; ele jamais será esquecido por esse Brasil conturbado. E por que será que um país de Domingos precisa se ababelar diante das violentas reações de seu povo?
Não precisa! O Brasil mais pobre de agora em diante, deve concentrar-se na tentativa de resolver seus dilemas freudianos. Mas, também carece de se mostrar maduro para solucionar suas neuroses. No final, tudo vai dar certo. Com Dominguinhos entre anjos e a rotina politiqueira querendo ser mais vedete do que o gênio da Sanfona.
Sim, eu ouso dizer que nos terreiros dos forrobodós nenhum outro músico foi e sempre será mais marcante do que Dominguinhos. E o homem em questão? Tão nobre e simples como fosse um Papa da caatinga. Sem os mesmos holofotes eclesiais lá se foi Dominguinhos. Lá se vai meio menino e meio homem. Lá se vai o brincante e o rigoroso.
Tive o prazer de ter estado frente a frente com Dominguinhos em quatro ocasiões. Agora já sinto saudades deste mestre. Com certeza nos encontraremos um dia nos portais espirituais nos quais sempre acreditamos, ele e eu. Nós kardecistas não cremos na morte. Acreditamos sim em novas experiências existenciais e, quem sabe, nos cruzemos por aí pelos portais da eternidade...
O meu silêncio está em prantos. Mas meu coração vadio ri para dar alegria ao descanso de um guerreiro que empunhou a sanfona para mimar os corações da humanidade. Vá com Deus, mestre! E reúna-se com Sivuca e Gonzaga para alegrar os anjos.
“Amigos a gente encontra/O mundo não é só aqui/Repare naquela estrada, que distância nos levará/ As coisas que eu tenho aqui na certa terei por lá”. (Dominguinhos e Manduka)
Por Ricardo Anísio
No meu livro mais recente (“Forró de Cabo a Rabo”, Edições Bagaço, Recife) eu coroou Dominguinhos como “o príncipe do forró”. Mas, pensando bem, já que Luiz Gonzaga era e será sempre o Rei do Baião, acho que Dominguinhos pode ser entronado como Rei do Forró, por que não?
Afinal de contas nenhum outro artista pode ser catalogado ao lado de Gonzagão e devidamente aclamado pelo mestre. O que me inquieta na verdade, é o fato de ver os cânones maiores desses nossos sertões pegando carona para o que chamamos de “andar de cima”.
E é mesmo andar de cima. Astros como Dominguinhos não podem ser meramente súditos, príncipes, herdeiros ou coisa parecida. Ele tem sim todo direito de ter um trono somente para si. Depois de Gonzaga ter desencarnado não tem como creditar a uma bela coroa o José Domingos de Morais. Ele é rei sim senhor.
É rei porque não competia com Gonzaga e porque tem talento de sobra. Para mim que atuo na crítica musical da Paraíba desde 1978 nada menos do que Rei deve ser a nomenclatura desse sanfoneiro sem par. Sim, Luiz Gonzaga nunca foi mais músico do que Dominguinhos. Como músico, o Rei Luiz não chegou a superar o súdito.
Claro que no conjunto da obra é insano comparar esses dois mestres que agora fazem levantar poeira dos bailes celestiais. Mas à Dominguinhos cabe um pedestal dos mais representativos na música popular deste Brasil; de Mãe Preta e Pai João.
E agora, José?
O José Domingos (assim mesmo, plural) certamente percorrerá um caminho digno, elevado e indelével. Tanto pela sua obra como pelo seu gigantismo de caridade e coerência; ele jamais será esquecido por esse Brasil conturbado. E por que será que um país de Domingos precisa se ababelar diante das violentas reações de seu povo?
Não precisa! O Brasil mais pobre de agora em diante, deve concentrar-se na tentativa de resolver seus dilemas freudianos. Mas, também carece de se mostrar maduro para solucionar suas neuroses. No final, tudo vai dar certo. Com Dominguinhos entre anjos e a rotina politiqueira querendo ser mais vedete do que o gênio da Sanfona.
Sim, eu ouso dizer que nos terreiros dos forrobodós nenhum outro músico foi e sempre será mais marcante do que Dominguinhos. E o homem em questão? Tão nobre e simples como fosse um Papa da caatinga. Sem os mesmos holofotes eclesiais lá se foi Dominguinhos. Lá se vai meio menino e meio homem. Lá se vai o brincante e o rigoroso.
Tive o prazer de ter estado frente a frente com Dominguinhos em quatro ocasiões. Agora já sinto saudades deste mestre. Com certeza nos encontraremos um dia nos portais espirituais nos quais sempre acreditamos, ele e eu. Nós kardecistas não cremos na morte. Acreditamos sim em novas experiências existenciais e, quem sabe, nos cruzemos por aí pelos portais da eternidade...
O meu silêncio está em prantos. Mas meu coração vadio ri para dar alegria ao descanso de um guerreiro que empunhou a sanfona para mimar os corações da humanidade. Vá com Deus, mestre! E reúna-se com Sivuca e Gonzaga para alegrar os anjos.
“Amigos a gente encontra/O mundo não é só aqui/Repare naquela estrada, que distância nos levará/ As coisas que eu tenho aqui na certa terei por lá”. (Dominguinhos e Manduka)
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